quinta-feira, 12 de abril de 2012

O CARNAVAL SANJOANENSE


 O Carnaval no Brasil tem inicio como uma festa da igreja, ligada as liturgias da Páscoa e sua Quaresma. As primeira noticias que temos do evento nos falam do “entrudo” ( do latim “intróito”, entrada) trazido do velho mundo pelos portugueses das Ilhas dos Açores por volta de 1720. Nos dias dedicados às festas carnavalescas o povo se divertia jogando água e farinha uns nos outros em flagrante subversão da ordem, quando os plebeus podiam se misturar aos nobres e estes passarem-se por gente do povo. Momento em que todos se igualavam.
   Já em janeiro de 1840, foi realizado no Rio de Janeiro o que se pode ser chamado de Primeiro Baile de Carnaval, quando uma loja carioca importou um grande estoque de mascaras, barbas e bigodes postiços usados naquele evento, que logo tornou-se moda espalhando a novidade por outros rincões. Mais tarde em 1852, também naquela capital surgiu o “Zé Pereira” – conjunto de bumbo e tambores, tendo à frente o sapateiro Jose Nogueira de Azevedo Paredes. Ambos eventos copiados e reproduzidos aqui pelos sanjoanense logo nos anos seguintes.
   Os primeiros clubes Carnavalescos surgiram em 1855, dando inicio ao carnaval de moldes europeus com mascarados pelas ruas, blocos, cordões e ranchos com suas cantigas e marchas acompanhados de instrumentos como rabecas, cuícas, pandeiros, tambores e tamborins. Aqui em São João da Barra podemos citar “Os Príncipes de Avernos” , “Os Filhos de Averno” , “Os Conchas”, “Os Caçadores” “Saldanhas”.
   O Jornal “O Paraibano” de 07/02/1868, trouxe em sua pagina de propagandas o seguinte anuncio: “ Para o Entrudo – Cera em pão, Verdete, óleo essencial de alfazema. Vende-se na casa do Moraes”. Já no mesmo jornal do dia 21/02/1868 outra propaganda “ Para o Carnaval - Chegou um Sortimento de lindas Mascaras de todas as qualidades, para a Casa do Moraes”. E ainda no mesmo jornal o seguinte comunicado “ Carnaval – A Sociedade União Carnavalesca, faz ciente ao respeitável publico desta cidade, que pretende dar um baile, no domingo 23 do corrente, e como os elegantes mascaras tem de sair a tarde em passeio, para percorrer as ruas, por isso pede por especial obséquio as pessoas prediletas do entrudo, para não as molharem. Eugenio Gomes de Azevedo Bath”, outro anuncio já diz: “O Diogo, vende para as damas do carnaval, enfeites o mais barato possível”  Essas são as mais antigas citações escritas dessa nossa grande festa no século XIX.
   A cidade vivia seu apogeu naquela época e isso fez com que tais associações adquirissem um gigantismo cada vez crescente. Em fins do XIX surgem suas duas maiores agremiações voltadas para o carnaval  O Clube União dos Operários e a Lira Democrata, cada qual buscando primor, beleza e arte em seus desfiles magníficos guardados na memória dos que viveram aqueles momentos. Essas instituições romperam o século e continuaram a brilhar no carnaval até o fim do período portuário fenecendo finalmente no carnaval de 1913 de saudosa memória.
   O período da decadência fez surgirem “As Magnólias” “As Sempre-Vivas” e depois, Marujos, Indianos, novamente  “Conchas e Caçadores” e finalmente Congos e Chinês, surgidos na década de 1930 como blocos de Rancho com suas Alas, seus Balizas e Porta- Estandartes, seus Mestres Cantos munidos dos respectivos apitos, marcando o inicio das evoluções e seus magníficos carros alegóricos puxados por burricos. Esses Ranchos atravessaram o século XX transformando-se em escolas de Samba ao fim da década de 70.
Quanto ao carnaval de rua, o que no princípio era o entrudo foi se transformando, principalmente depois da Família Real chegar ao Brasil, quando a tradição já centenária foi abolida do carnaval. Chegam os mascarados europeus e com eles uma nova maneira de se divertir no período anterior a Quaresma Pascal. Com estes máscaras, chegam à nossa cidade os luxuosos “Dominós” que, segundo pesquisa realizada nos anos 80 por Moema Magalhães, “ ...são personagens oriundos da inquisição medieval, os Dominicanos ( em latim,  Domini = Senhor, Canis = Cães ) ou seja, os Cães do Senhor, os guardiões da Fé, os Carrascos da heresias que com seus mantos negros e rostos cobertos, executavam suas vítimas. Com o fim da Inquisição estes personagem foram introduzidos no carnaval de Veneza e de lá chegaram  para nós através de nosso porto cosmopolita. Com suas túnicas, capas, capuzes, mascaras e seus inseparáveis corta-vozes animam ainda hoje as ruas da cidade. Na década de 80 por sugestão do Dr. Ailton Damas, o Jornal “Folha Nova” de Adméa Lobato criou o Concurso de Dominós a fim de premiar este personagem da nossa rica cultura.
Nosso Carnaval , lindo até os dias de hoje, deve muita a Eugenio Bath, Belmiro Fluminense, Mariquinha Salva, Joaquim da Câmara  Pavão, Jose Henrique e seu filho Coriolano, Amando Alves, seu filho Newton Alves, sua neta Moema Magalhães. Deve muito a Quinca de Bisa, a Tuiú e Perna, deve ainda a Heloina Pinto e suas irmãs, a Gecila Gaia e sua família, a Ditinho Campista, Dilsinho e Delinho Peixoto, as Almeida ( Todas) enfim ao sanjoanense que de um modo geral vive o ano inteiro para os três dias de Carnaval.
Alegoria do Clube Carnavalesco dos Democratas no memorável carnaval de 1913. Uma homenagem à  Câmara municipal.

Alegoria do Clube Democrata nos fundos da Igreja Matriz no carnaval de 1913. A frente , a cavalo, o Coronel Amando Alves, líder político e maioral daquela agremiação carnavalesca.

Alegoria carnavalesca criada por Coriolano Henriques para "Os Democratas" no carnaval de 1913. Ao fundo vemos a lateral da Igreja Matriz e a casa de Cleuza Azevedo. Observe os burricos atrelados ao carro.

Fernando Antonio Lobato

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