sexta-feira, 30 de março de 2012

O PONTAL DE ATAFONA E AS TRANSGRESSÕES MARÍTIMAS


Depois de visitada em 1501 pela expedição exploradora de Gaspar de Lemos, a foz deltaíca do Paraíba do sul, habitada geralmente pelos bravos guerreiros Goytacazes, voltou a ser visitada por homens brancos em torno de 1530 com a chegada do Donatário Pero de Góis proprietário da rica capitania da Paraíba do sul ou de São Thomé. No entanto embora senhor de toda essa terra o donatário escolheu a foz do rio Managé ou Itabapoana para estabelecimento de seus engenhos e vilas.
Por volta de 1620, segundo o notável historiador sanjoanense Fernando Jose Martins, que em 1868 publicou a história de nossa cidade; a foz do rio foi visitada por um grupo de pescadores oriundos de Cabo Frio, formando-se a partir daí o primeiro núcleo de povoação no extremo norte fluminense.
Ainda segundo Martins, sabemos que esta foz do rio Paraíba do Sul se achava nas imediações de onde hoje se localiza a igreja de N. Senhora da Penha. Esta foz deltaica era recoberta de geoberas e outras plantas aquáticas que impediam a passagem de embarcações, tornando impossível a passagem por ela, quadro que se perpetuou até o século XVIII, quando o rio foi desobstruído em função da crescente atividade da navegação fluvial.
Corre na tradição oral, que a partir dessa época a foz do rio foi se deslocando mar adentro, fazendo o oceano recuar formando uma extensa península de areia denominada Pontal pelos moradores da barra, posteriormente batizada de Atafona, em função de um imenso cata-vento (atafona em árabe) do período dos holandeses na região, graças aos conhecimentos eólicos desse povo, utilizando o farto vento da praia para mover bombas d’água.
O fato é que durante algumas centenas de anos o pontal foi-se alongando tornando-se terra firme e conseqüentemente atraindo os pescadores que começaram a construir suas casas sobre ele formando no século XX um imenso bairro de pescadores.
Recanto poético e inspirador o pontal tornou-se atrativo turístico da praia de Atafona e, com o advento dos banhos de mar e da moda de se freqüentar balneários famosos, passou a ser muito procurada principalmente a partir dos anos 30. Vale ressaltar a importância da praia de atafona com suas areias monazíticas na cura de doenças como poli nevrite e outras de pernas e ossos.
Voltando ao pontal, seu apogeu aconteceu na década de 70 quando se tornou nacionalmente conhecido principalmente depois de ser aproveitado para as filmagens de “Na Boca do Mundo” com Norma Benguel e Antonio Pitanga. Bares, restaurantes e casas noturnas foram aparecendo em rústicas palafitas entre dunas e manguezais tornando o local bucólico e aprazível. É nessa época o início das invasões do mar destruindo casas, ruas, bares, restaurantes, um posto de gasolina, frigoríficos, uma capela, quarteirões inteiros e depois todo o bairro inclusive os manguezais e todo o resto acabando com a longa península formada após a desobstrução da foz no século XVIII.
Hoje com um saldo de mais de 20 ruas destruídas, o que corresponde a um bairro inteiro, mais todo o princípio da avenida atlântica onde em torno de 200 casas de veraneio foram destruídas inclusive a mansão do Lysandro Albernas, da usina São João; com mais de 10 quartos e fantástica área social com piscina, salões etc.
Muitas hipóteses têm sido levantadas e diversos estudos versam sobre o fenomeno que recebe a atenção de grande parte do mundo científico. Segundo alguns esse fenômeno faz parte de um movimento cíclico que ora afasta o mar, ora avança. Para outros se trata do avanço do mar em função do enfraquecimento do rio, a cada ano com menos volume de água; para uma terceira corrente seria reflexo do aumento do nível das águas do mar em decorrência do aquecimento global.
Em verdade o fenômeno registra a força das águas, levando o homem a analisar a sua impotência ante a força da natureza. Embora a destruição do local sirva como atrativo turístico, a praia sofre com o fim de um dos seus mais encantadores e bucólicos recantos. Vale a pena ser conferido.

Fernando Antonio Lobato

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