sexta-feira, 30 de março de 2012

EVERGETISMO, HONRARIA, TRADIÇÃO E REFLEXÕES.


Na Roma antiga, o homem rico ou nobre deveria conceder, à plebe, ao menos uma vez na vida, um espetáculo (teatro, corridas de carro no circo, lutas de gladiadores) ou construir um edifício público. Essa idéia, conhecida como evergetismo, um misto de generosidade, obrigação pública e desejo de se destacar é que levava esses homens a realizar tais feitos. Um nobre querendo sentir-se superior aos outros, tornava estes eventos e construções uma espécie de competição, buscando ser aclamado e lembrado pelas pessoas do local onde vivia. Os ricos se sentiam figuras públicas e recusar-se a doar era cair no esquecimento. Portanto, em vez de um prazer momentâneo, preferiam oferecer à cidade um edifício sólido, geralmente obras monumentais para ornamentar a cidade, ou construções como locais para banhos públicos, onde seu nome ficaria gravado.
Aqui em São João da Barra no século XIX, O Comendador Joaquim Thomaz de Farias, querendo perpetuar seu nome, construiu e doou à cidade o sólido templo dedicado a Nossa Senhora da Boa Morte, gastando do próprio bolso mais de cinco contos de reis.
Pois este templo, construído para abrigar a imagem doada pelo marinheiro Antonio Alberto de Vasconcelos, antepassado da família Lobato, foi desprezado pelos sanjoanenses e dado de bandeja para a Mitra de Campos, que agora deseja o mesmo com a matriz de S.João Batista.
Também no século XIX, o Coronel Emanuel Francisco de Almeida, com o mesmo intuito, mandou construir em pedra e cal o templo de São Pedro, onde foi sepultado junto à esposa, perpetuando dessa forma o seu nome junto à gratidão do povo sanjoanense pela doação.
No início do século XX o coronel Cintra, também para perpetuar seu nome mandou construir à frente da Sociedade Beneficente dos Artistas, o soberbo edifício do Teatro São João. Graças a esta obra seu nome ficou na memória imorredoura dos sanjoanenses e o prédio atesta ainda hoje a importância do gesto.
Estes exemplos deveriam ser seguidos por aqueles que desejam ver perpetuados os seus nomes e o panteão de suas famílias.
E como usamos hoje este espaço para falar do nosso patrimônio não podemos deixar de mencionar o insistente apelo para se alienar nosso rico patrimônio histórico, transferindo para terceiros o poder sobre o que hoje é propriedade da comunidade.
Santos, imagens, documentos históricos, prédios, assim como o imaginário do povo, suas lendas, cantigas, musicas, danças, receitas, constituem o patrimônio cultural da cidade e NINGUÉM está autorizado a dele se desfazer. As construções, doações e criações de nossos antepassados nos pertencem e não podem ser alienados.
Conhecer a história de nossa cidade, de nossos homens, de nossa gente, ajuda-nos a evitar equívocos e cometer injustiças através de homenagens imerecidas.


Fernando Antonio Lobato

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