segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A trajetória do bordado em São João da Barra

Os longos anos de dominação árabe na península ibérica deixaram profundo legado cultural para os portugueses e espanhóis depois de efetivada a expulsão dos mouros “infiéis”. Hábitos cotidianos, vocábulos e expressões habilidades culinárias e artísticas impregnaram a alma daqueles povos traduzindo-se em peculiar cultura no coração da Europa.
Com a descoberta do novo mundo esses hábitos e costumes foram transplantados para a América onde absorvidos pelo povo formaram a cultura do período colonial americano.
Dos hábitos cotidianos podemos destacar principalmente a forma como a mulher era vista na sociedade e o papel que desempenhava. Na tradição islâmica é vedada à mulher a exposição pública e só em casos muito especiais é permitida a mulher à circulação pelas ruas e praças das cidades.
Completamente enclausurada como nos haréns das histórias das “Mil e uma noites” as mulheres nos raros momentos em que lhe era permitido circular pelas ruas, o fazia completamente coberta por roupas, xales e mantilhas que lhes cobriam todo o corpo. Na América este habito foi copiado e embora o calor dos trópicos tornasse o costume insuportável, ainda assim, perdurou por longo tempo esta discriminação contra a mulher.
Numa sociedade eminentemente machista, cabia a mulher a papel de mãe, senhora do lar, amante amantíssima e subserviente ao Pai em primeiro lugar, depois aos maridos e ou aos irmãos e finalmente aos filhos quando viúvas.
No lar as atividades domésticas cabiam as mulheres que delas desincumbiam-se durante todo o dia quer executando as tarefas ou administrando a escravaria nas casas abastadas. A rica e elaborada culinária colonial, soma de tradições ibéricas, africanas e autóctones legou as mesas brasileiras uma variedade de aromas, temperos e sabores. E nesta arte as mulheres consumiam grande parte de seu tempo, mas como no ditado popular “o ócio e oficina do diabo” e como não era permitido ensinar escrita e leitura para as mulheres, só lhes restava a arte através de bordados, costuras e pinturas nutrindo dessa forma um outro habito essencialmente da alma feminina, a vaidade, através dos trajes e dos enxovais de cama e mesa, verdadeiras obras primas executadas por habilíssimas e delicadas mãos.
Dessa forma o tempo das senhorinhas, das esposas e avós era preenchido com longos e complicados bordados que enfeitavam não apenas vestidos domésticos e de festas, de sair e de dormir, mas também decoravam com capricho e apuro, lençóis e fronhas, toalhas de mesa, de mãos e de rosto, guardanapos de linho e lenços de seda, cada um demonstrando o capricho e habilidades das proprietárias.
As meninas ainda pequenas começavam a treinar a arte em costuras para pequeninas roupas de bonecas, a imitação dos trajes adultos; com o passar do tempo eram introduzidas no metiê e de posse de agulhas e bastidores passavam a executar os bordados que mais tarde enfeitavam seus enxovais. As moças casavam muito cedo e levavam para o casamento um rico enxoval que denotavam suas posses. Lençóis e toalhas dos mais ricos tecidos eram executados e enfeitados com bordados nas extremidades, nas bordas e viras. Cabendo as meninas moças a execução de tão hábil trabalho.
Terminados os enxovais, ou durante a sua confecção, a guisa de entretenimento eram executados com o mesmo apuro os trajes doados por devoção ou promessa para as imagens religiosas que adornavam as antigas igrejas barrocas das cidades.
Confeccionar as roupas e depois levá-las para adornar as imagens era uma forma não só das meninas passarem o tempo, como também uma maneira que encontravam de poderem sair de casa em ocasiões especiais plenamente justificadas, visto tratar-se de atividades de cunho religioso, muito em voga e plenamente aceitável naqueles tempos. Eram estas saídas para trocar com freqüência as vestes dos santos, ocasião para fortuitos encontros amorosos. Dessa forma foram-nos legadas verdadeiras preciosidades, não só das roupas domésticas, mas principalmente dos vestuários sacro, que depois se expandiram para os trajes sacerdotais e para as vestimentas dos personagens das procissões e festividades como o “Divino Espírito Santo”,”pastorinhas” até o carnaval, etc.
Das grandes bordadeiras do passado recente destacamos :

Nicota Pavão
Nair Simões
Umbelina Graça Franco
Mariquinha Salva
Ecyla Diniz
Reclina Amaral
Zizi Henriques
Malvina Borges
Luiza Machado
Efigênia Pinto
Lenir Azevedo
Maria Luiza Fernandes
Ligia Bongosto
Izabel Almeida
Maria Antonia Almeida
Maria da Penha dos Santos
Tereza Peixoto
Lorice Bongosto
Marinez Azevedo
Ana Amélia Ernesto
Thereza Franco
Maria Valdinéia Toledo

Fernando Lobato
Historiador

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